A Igualdade (e a Desigualdade) na Filosofia de Hobbes: Cite Três Exemplos Da Igualdade Entre Os Homens Em Hobbes
Cite Três Exemplos Da Igualdade Entre Os Homens Em Hobbes – Thomas Hobbes, em sua obra Leviatã, apresenta uma visão singular sobre a natureza humana e a formação da sociedade. Contrariando a ideia de um estado de natureza harmônico, Hobbes descreve um cenário de conflito permanente, onde a igualdade, paradoxalmente, é a raiz da guerra de todos contra todos. Neste artigo, exploraremos como a concepção hobbesiana de igualdade, tanto no estado de natureza quanto no estado civil, molda sua teoria política.
O Estado de Natureza e a Igualdade Natural

Para Hobbes, o estado de natureza é um estado de guerra perpétua. A igualdade entre os homens, neste contexto, não implica em igualdade de força física ou habilidades, mas sim na igualdade de capacidade de morte. Todos, independentemente de sua força física ou inteligência, possuem a capacidade de matar o outro. Essa igualdade na potencialidade de causar dano, somada à competição por recursos escassos e à ausência de uma autoridade superior, cria um ambiente de constante insegurança e conflito.
Embora existam diferenças físicas e intelectuais entre os indivíduos, Hobbes argumenta que essa desigualdade não é significativa o suficiente para eliminar a ameaça mútua. Um indivíduo mais fraco pode, através de estratégias, alianças ou mesmo por meio de meios sorrateiros, eliminar um indivíduo mais forte. A igualdade de poder, portanto, reside na capacidade de todos causarem dano a qualquer outro, perpetuando o estado de guerra.
A Busca pela Autoconservação e a Igualdade na Competição, Cite Três Exemplos Da Igualdade Entre Os Homens Em Hobbes
No estado de natureza hobbesiano, a busca pela autoconservação é o motor principal das ações humanas. Cada indivíduo busca, primordialmente, sua própria sobrevivência e bem-estar, levando a uma competição incessante por recursos limitados. Essa competição, por sua vez, é caracterizada por uma igualdade fundamental: todos estão em busca dos mesmos recursos e, portanto, todos são potenciais rivais. A escassez de recursos essenciais, como alimento e abrigo, exacerba essa competição e intensifica o conflito.
Em contraste com a igualdade do estado de natureza, a sociedade civil, segundo Hobbes, gera desigualdade. A submissão a um soberano cria uma hierarquia de poder, com o soberano detendo o poder supremo e os súditos submetidos à sua autoridade. Essa desigualdade, no entanto, é vista por Hobbes como necessária para garantir a paz e a segurança social, uma vez que elimina a ameaça constante da guerra de todos contra todos.
O Contrato Social e a Renúncia à Igualdade Natural
Para Hobbes, o contrato social é um acordo entre os indivíduos para renunciar a sua liberdade natural e transferir o poder a um soberano absoluto. Essa renúncia à igualdade natural é o preço pago pela segurança e pela paz social. A justificativa para a necessidade de um soberano absoluto reside na incapacidade dos indivíduos de manter a paz por si mesmos no estado de natureza.
Somente um poder superior, capaz de impor a lei e punir os transgressores, pode garantir a segurança de todos.
A submissão ao soberano, embora crie uma desigualdade de poder, garante a segurança e a paz social. Ao renunciar ao direito de autodefesa e ao direito de julgar os outros, os indivíduos transferem esses poderes para o soberano, criando um sistema de ordem e justiça que, apesar de hierárquico, garante a sobrevivência e o bem-estar coletivo. Essa troca, segundo Hobbes, é racional, pois a vida sob a lei, mesmo que desigual, é preferível à morte no estado de natureza.
Igualdade perante a Lei

No estado civil, a igualdade perante a lei é a forma de igualdade que Hobbes propõe. Todos os súditos, independentemente de sua riqueza, força ou posição social, estão submetidos às mesmas leis e sujeitos às mesmas punições. Essa igualdade jurídica, embora diferente da igualdade natural, é fundamental para garantir a ordem social e a justiça. A lei, emanada do soberano, é o instrumento que regula as relações entre os indivíduos, garantindo um mínimo de equidade e impedindo o retorno ao estado de natureza.
A igualdade natural, caracterizada pela liberdade ilimitada e pela igualdade na capacidade de causar dano, é substituída pela igualdade jurídica, que se baseia na submissão à lei e na igualdade de tratamento perante a justiça. Essa troca, para Hobbes, é um progresso, pois a igualdade perante a lei, mesmo em um contexto de desigualdade de poder, é condição necessária para a paz e a segurança.
Característica | Estado de Natureza | Estado Civil | Observações |
---|---|---|---|
Igualdade | Igualdade na capacidade de causar dano (igualdade de poder potencial para a morte). | Igualdade perante a lei (igualdade jurídica). | A igualdade natural é renunciada em prol da segurança proporcionada pelo estado civil. |
Liberdade | Liberdade ilimitada (direito natural à autoconservação). | Liberdade limitada pela lei e pela submissão ao soberano. | A liberdade natural é restringida para garantir a ordem social. |
Segurança | Insegurança constante (guerra de todos contra todos). | Segurança proporcionada pela lei e pelo poder do soberano. | A segurança é alcançada através da renúncia à liberdade natural. |
Poder | Igualdade potencial de poder (capacidade de causar dano). | Desigualdade de poder (soberano detém o poder supremo). | A desigualdade de poder é vista como necessária para garantir a segurança. |
A Razão e a Busca pela Paz
Para Hobbes, a razão desempenha um papel crucial na busca pela paz e segurança. A razão, ao reconhecer a igualdade de capacidade para o mal e a precariedade da vida no estado de natureza, leva os indivíduos a buscarem um acordo para sair dessa situação. A razão permite aos indivíduos perceberem que a guerra de todos contra todos é prejudicial a todos, e que a cooperação, sob a égide de um soberano, é a melhor forma de garantir a sobrevivência e o bem-estar.
- Reconhecimento da insegurança e da mortalidade inerentes ao estado de natureza.
- Compreensão da necessidade de um poder superior para impor a lei e manter a ordem.
- Criação de um contrato social, através do qual os indivíduos renunciam à sua liberdade natural em troca de segurança.
- Submissão a um soberano absoluto, capaz de garantir a paz e a justiça.
- Aceitação da desigualdade de poder em troca da segurança e da estabilidade social.
Em resumo, a análise da igualdade em Hobbes revela uma perspectiva surpreendente e desafiadora. A igualdade natural, marcada pela ameaça constante da violência, leva à necessidade de um contrato social que, ao mesmo tempo em que instaura a desigualdade de poder, garante a segurança e a paz social, criando uma nova forma de igualdade perante a lei. A compreensão desta aparente contradição é fundamental para decifrar o legado duradouro do pensamento político de Hobbes e sua influência na concepção moderna do Estado.
A busca pela auto-preservação, motor principal da ação humana em seu estado de natureza, impulsiona a necessidade de uma estrutura social que, por mais desigual que seja em termos de poder, oferece a segurança essencial para a coexistência humana. A igualdade, portanto, assume diferentes formas e significados ao longo da argumentação hobbesiana, numa demonstração de sua complexa e perspicaz análise da condição humana.